Se você olhar para a história da NBA de uma visão panorâmica, vai perceber que a liga está cada vez menos dominada por dinastias. Nos primeiros anos, dois times praticamente monopolizaram os títulos: os Minneapolis Lakers ganharam 5 campeonatos em 6 anos, e depois os Celtics venceram 11 em 13 temporadas, com oito títulos seguidos — um feito que jamais foi igualado.
Na década de 1980, apesar de um pouco mais equilibrada, Lakers e Celtics ainda dominaram. Apenas cinco franquias chegaram às Finais naquela década: Lakers, Celtics, 76ers, Rockets e Pistons.
Nos anos 90, o Chicago Bulls de Michael Jordan dominou com dois tricampeonatos. Nos anos 2000, os Lakers voltaram com um three-peat (2000-2002), mas desde então vimos apenas três bicampeões: Lakers (2009-10), Heat (2012-13) e Warriors (2017-18). Isso é bem menos do que no período anterior.
Paridade virou o novo normal?
O cenário ficou ainda mais caótico nos últimos anos. Em 2025, os Knicks eliminaram o atual campeão Boston Celtics. Desde 2019, todos os campeões foram diferentes: Raptors (2019), Lakers (2020), Bucks (2021), Warriors (2022), Nuggets (2023). Celtics (2024) e agora teremos um novo em 2025. Nunca antes na história da NBA tivemos sete campeões diferentes em sete anos seguidos.
E pior: nenhum desses campeões sequer passou da segunda rodada no ano seguinte ao título.
O que explica o fim das dinastias?
Não existe uma única resposta. A troca de comissário, por exemplo, pode ter influenciado. Adam Silver, diferente de David Stern, busca um equilíbrio maior entre os times. A NBA mudou a loteria do Draft, criou o Play-In e assinou dois novos acordos coletivos que dificultam manter elencos caros.
Mas não é só isso. A verdadeira explicação está na forma como os times constroem seus elencos hoje.
A era do “all-in”: tudo por um título
Dos seis últimos campeões, cinco apostaram pesado em trocas para reforçar o elenco:
- Raptors (2019): Kawhi Leonard.
- Lakers (2020): Anthony Davis via troca.
- Bucks (2021): Jrue Holiday.
- Nuggets (2023): Aaron Gordon.
- Celtics (2024): Jrue Holiday de novo.
Esses times também tinham elencos mais velhos. O Lakers, por exemplo, usou sete jogadores acima dos 30 anos na rotação dos playoffs. Bucks e Warriors também apostaram em veteranos.
A ideia era simples: ir com tudo para ganhar logo. O problema? Isso cobra um preço.
Pouca profundidade, sem flexibilidade
Ir all-in custa caro. Você entrega jovens, picks de Draft, flexibilidade de trocas e depth. Quando o elenco envelhece ou alguém se machuca, não dá pra repor. Foi o que aconteceu com Warriors (que perderam Gary Payton II e Otto Porter), Bucks (sem P.J. Tucker) e Raptors (que desmancharam aos poucos).
Além disso, o número de lesões nos playoffs explodiu. De 1994 a 2018, no máximo cinco All-Stars por ano se machucavam na pós-temporada. Desde 2019, sempre tivemos pelo menos cinco, chegando a 10 lesionados em 2021.
Com lesões e elencos curtos, é impossível sustentar uma dinastia.
A nova era: times “all-out”
Se a era all-in tenta ganhar agora, a nova era é a dos “all-out”: times que vendem tudo para vencer mais tarde.
O exemplo perfeito? O Oklahoma City Thunder.
Eles trocaram Paul George para o Clippers, ganharam Shai Gilgeous-Alexander e uma tonelada de escolhas de Draft. Com paciência, montaram um elenco jovem, profundo e barato — com Chet Holmgren, Jalen Williams e outros.
O Thunder não tem pressa. E quando precisar reforçar o elenco, vai conseguir sem sacrificar tudo. Rockets e Spurs estão trilhando caminhos parecidos.
Então… acabou mesmo a era das dinastias?
Ainda não dá pra dizer com certeza. O novo acordo coletivo dificulta manter elencos campeões por muito tempo. As lesões seguem aumentando. E o número de times competitivos nunca foi tão alto. Tudo isso aponta para uma liga mais imprevisível.
Mas se a nova geração “all-out” for capaz de se manter jovem, profunda e flexível, talvez alguma delas consiga criar uma dinastia — só que de um novo tipo.
Por enquanto, o que vemos é o fim de um modelo: as superpotências que apostam tudo em trocas e veteranos parecem não conseguir mais repetir o sucesso por vários anos. E se isso for verdade, talvez as dinastias que conhecemos estejam realmente mortas. Mas a NBA, como sempre, pode nos surpreender.